sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

O mistério da mansão Himuro


"Áustria-san
Andei pensando melhor e talvez possa me ajudar. Se o album achado na estante lhe causou alguma curiosidade, venha até a mansão Himuro, localizada no endereço abaixo, onegai.
Assinado: Japão. 

Terminei de ler pela terceira vez a carta e olhei para a fachada da mansão antiga e com traços da arquitetura nipônica. Junto a mim estavam Kugelmugel, França, Austrália, Itália, Vietnã e América.

Entramos na mansão e nos deparamos com um breu. O luar era a única fonte de luz naquele momento. América e eu decidimos ir até à cozinha procurar por fósforos, velas ou lanterna. 

De repente tive a sensação de ter sentido alguém passar por mim, mas naquela escuridão estava impossível saber o que era.

_ Não achei nada. _ América bufou _ Por que Japão viria pra ca?

_ Vou ver como estão os demais, Alfred.

_ Okay!

Quando andei pelo corredor até o hall, tive a ligeira impressão que alguém me seguia. Olhei para trás, pensando ser América.

_ Alfred, é você? _ Nenhuma resposta _ Alfred...?

Então, bruscamente, uma gelada mão agarrou meu pulso e me puxou para trás. Meu sangue congelou nas veias e esperei que minhas costas colidissem com a parede do corredor, mas isso não aconteceu. Pelo contrário, cai no chão. Alguém me puxara para outro compartimento da casa. Levantei-me para voltar para o hall, mas tudo o que senti foi a parede firme à minha frente.

Olhei para trás, mas a escuridão era tanta que mal dava para perceber se meus olhos estavam abertos ou fechados. Tentei pedir ajuda, todavia tudo indicava que ninguém podia ouvir minha voz. Passei a andar pelo local em busca de saída, porém a sensação era a de que eu ficava cada vez mais perdido. Acabei vendo-me no meio do nada e só me restava esperar.

XxX

Eu estava sentado no chão, com a cabeça apoiada nos braços e nos joelhos quando percebi o local clarear. Olhei mais atentamente para a luz da lanterna que se aproximava, e junto com ela estava o grupo do qual eu havia me separado.

_ O hero achou o senhor Áustria, pessoal! _ A voz era de América.

_ Áustria-san! _ Itália, que segurava a lanterna, correu até mim e me abraçou assim que eu me levantei.

_ Itália... _ Retribui o abraço e olhei para os demais. Estavam todos ali, curiosamente, cheios de ferimentos. _ O que aconteceu com vocês? Não conseguiram achar Kiku?

_ Fomos atacados por fantasmas. _ Respondeu Vietnã aborrecida _ Eles quase nos mataram, mas conseguimos escapar por causa disso aqui. _ Apontou para a câmera que estava em suas próprias mãos _ Uma câmera de exorcismo. Parece que isso elimina os fantasmas.

_ Essa câmera... Eu vi uma dessas nas mãos de Kiku quando fui visitá-lo da última vez.

Houve um breve silêncio. América, Vietnã e França se entreolharam, Itália afastou-se de mim assim que Julian se aproximou e pude me curvar para ver se ele estava bem. Já Austrália se limitava a olhar para uma outra direção.

_ Gente, acho que tem um fantasminha bonitinho vindo na nossa direção.


Ficamos atentos e Vietnã logo correu para frente de Austrália, munindo-se da câmera. Algo se aproximou lentamente de nós, e ela imediatamente tirou uma foto. Para nossa sorte, era apenas Kiku, que vinha cambaleando por um caminho diverso ao que eles usaram para me encontrar.

_ Kiku! _ Vietnã e Itália gritaram, indo até ele antes que suas pernas perdessem as forças.

_ Hei, Japão, o que aconteceu com você? _ Alfred indagou, aproximando-se dele. _ Por que veio para cá e por que mandou a carta pro senhor Áustria vir também?

Observei Kiku olhar fracamente para mim e depois para os outros três:

_ Não era para vir todos vocês... Eu precisava de ajuda, mas não queria envolver tanta gente.

_ Ajuda? Ajuda para que?

_ Para achar o talismã... Eu não aguento mais isso...

Kugelmugel e eu nos entreolhamos e nos aproximamos do grupo para ouvir o que Japão tinha a dizer. Por um momento, um silêncio medonho se fez presente, acompanhado de uma atmosfera sufocante. Kiku abriu levemente a boca, e relatou quase num sussurro:

_ Há séculos atrás... A família Himuro acreditava que para manter o portal entre o mundo humano e o mundo dos yokais fechado era necessário um ritual que envolvia as mulheres da própria linhagem. Eles selecionavam as jovens as quais eles achavam serem aptas para o sacrifício.

Meus olhos se abriram mais, e não fui o único a ter essa reação.

_ S-sacrifício? _ Itália cobriu a boca depois de falar, como se tivesse proferido uma ofensa.

_ Sim... Uma menina era escolhida no dia do seu nascimento e era criada em um quarto fechado, sem ter contato com o mundo exterior. Ela tinha que ser pura e sem nenhum apego à Terra.

A medida que a menina crescia, garotas eram escolhidas para que, no dia do sacrifício, elas brincassem de oni... Uma brincadeira de pegar. 

Mas aquilo não era uma brincadeira.

Uma das garotas representava o oni para correr atrás das outras. A primeira a ser pega seria sacrificada, pois ela era cega ao demônio, e a última faria conjurações para segurar os yokais, impedindo-os de saírem do portal. 


No dia do sacrifício, a donzela ainda viva tinha seus pulsos, tornozelos e pescoço atados por cordas, que eram puxadas por bois até arrancarem seus membros. 

A primeira garota pega na brincadeira do oni usava uma máscara com longas e finas pontas na direção dos olhos, cegando-a.

Já a última garota a ser pega, cuidava das conjurações. 

E assim, o ritual estava concluído. 


_ Mas isso é muita maldade! _ O choro de Itália trouxe a mim e aos outros à realidade _ Por que... Por que tinham que fazer isso?! Você não concordava com isso, não é, Japão? Não... Não concordava, certo?

À medida que Itália falava, algumas gotas de lágrimas se acumulavam no canto de seus olhos. Limitei-me a aparar uma delas com o dedo antes que escorregasse pela face dele, e de alguma forma, desviei sua atenção por um curto tempo.

_ Eu não concordava... Mas eu... Eu... _ Kiku balançou a cabeça e tentou se manter firme.

O último ritual feito falhou porque a donzela, pela a janela do quarto onde ela ficava, viu um homem ao longe. Ela se apaixonou e acabou criando um apego à Terra. 

O procedimento falhou e o patriarca da família enlouqueceu e matou a todos. Depois cometeu suicídio, fazendo com que o ritual nunca mais fosse executado. Eu... Fui o único sobrevivente naquele dia, embora tivesse ficado gravemente ferido.

_ Kiku, você guarda isso até hoje? _ Vietnã perguntou com remórcio.

_ ...

_ Kiku?

_ Ele ainda está aqui... O patriarca... E todos os outros... Eles me assombram ainda.

Não sei se conseguirei narrar com precisão a partir de agora. Tudo ainda está muito confuso em minha mente. Tudo o que sei é que quando Vietnã tentou reanimá-lo, uma criatura fantasmagórica, feminina, de cabelos negros e olhos perfurados, derramando sangue, saiu de Kiku e a atacou, estrangulando-a. Poderia dizer que era um fantasma, mas era sólido. América correu em socorro de Vietnã e virou o novo alvo da criatura.

De repente, milhares de mãos surgiram das paredes e prenderam o corpo de Kiku, que agora parecia uma mera marionete presa por cordões.

Os donos de algumas daquelas mãos emergiram e nos atacaram, encurralando-nos. Eram centenas. Vi Itália, Kugelmugel, Vietnã, Austrália e América sumirem em meio aos fantasmas que os atacavam. Reagi na esperança de ajudá-los, mas não consegui me desvencilhar daqueles que vinham para cima de mim. Um par de braços apertavam minha garganta e faziam minha visão ficar turva. 

De alguma forma, talvez por ser muito pequeno, Julian conseguiu se desvencilhar o suficiente para alcançar a câmera de exorcismo e atacar os próprios agressores. Correu até mim e fez a mesma coisa, e logo pude respirar.

Os demais fantasmas perceberam que a câmera estava conosco e largaram Vietnã, América, Itália e Austrália para vir atrás de nós. Enquanto isso, o corpo inanimado de Kiku saia do chão, preso pelas mãos que ainda o sustentavam. Sua pele ganhava um tom arroxeado e era quase visível perceber a vida se esvaindo de seu corpo.

Kiku foi o único sobrevivente. Eles o queriam também.

Coloquei Julian no colo e escapei dos fantasmas que queriam nos pegar enquanto ele usava a câmera. Vietnã e América estavam gravemente feridos e por mais que eu estivesse livre, estávamos cada vez mais cercados. Julian parecia ter bastante concentração nas fotos, mesmo numa situação de perigo, mas ele não era rápido o bastante.

Eu poderia continuar sendo os pés dele, mas não sou bom em fugas.

A solução era quase óbvia. Corri para onde estava a silhueta de Itália, agora encostado na parede e cercado por uns cinco ou seis inimigos. Consegui chegar até ele antes que os oponentes decidissem atacar, entretanto isso me custou uns golpes dolorosos.

_ Áustria-san! 

Desvencilhei-me o suficiente para passar Kugelmugel para ele e empurrá-lo para fora daquele tumulto.

_ N-não, eu...

_ Vá embora! _ Ordenei.

Não pude ver o que aconteceu depois. Uma lâmina atravessou brutalmente minhas costas e tudo desapareceu.

XxX

Quando acordei, estava no hall de entrada, e todos estavam comigo. Num estado deplorável, cheios de sequelas... Mas estavam salvos. Vietnã, América, Itália e Kugelmugel estavam acordados. Os demais, desmaiados, inclusive Japão.

_ O que...?

_ Áustria-san! _ Itália me abraçou e tive que me segurar para não repeli-lo por instinto... O que é normal, considerando que os últimos pares de braços que vieram em minha direção foram para me enforcar.

_ O que aconteceu? Vocês estão bem? Como...?

_ Vee~ Foi assustador! Enquanto fugíamos eu subi até o sótão! Não dava pra ir para o resto da casa porque eles estavam por toda a parte! Só que quando chegamos la, apareceu um fantasma horrível e muito malvado! Eu acho que era o patriarca. Ele tentou nos matar, mas eu consegui me esquivar. Então apareceu um talismã brilhando... Eu queria pegá-lo, mas... Aquele homem era muito forte! Quase morremos!

_ Quer logo dizer como isso tudo terminou, seu tonto?

Ele riu sem jeito e continuou:

_ Julian conseguiu tirar fotos dele e deu tempo para eu pegar o talismã que brilhava... Ai, de repente, os fantasmas apareceram. Não sei de onde vieram, mas eram muitos! E Japão estava com eles e começou a nos atacar! Só que ele não faria isso, né? Né?

Olhei mais atentamente para Itália. Havia um corte considerável em seu ombro. Por outro lado, seus pulsos estavam machucados, como se tivesse bloqueado ataques. 

_ Eu fiquei desesperado! _ Ele continuou _ Mas não podia fugir e deixar o Kugelmugel. Ai eu joguei o talismã no Japão e ele voltou ao normal. Que sorte, né? _ Sorriu.

_ E... O que aconteceu depois?

_ Ah. Japão segurou o talismã e falou umas coisas para acabar com a maldição. Parecia um exorcismo em massa. Ve~ Foi assustador! Mas pelo menos eles sumiram. Depois Japão desmaiou. 

_ ...

_ Hehe! Eu estava com muito medo, mas tínhamos que voltar pra buscar o senhor e os outros. Vocês estavam desmaiados, mas havia uma donzela de kimono branco com vocês. Foi estranho. Ela deixou Julian tirar a foto dela e pareceu se despedir.

Ergui as sobrancelhas surpreso. Pode ter sido a mesma pessoa que me puxou para dentro daquele compartimento. Talvez ela não fosse uma inimiga.

Suspirei aliviado. América, por outro lado, coçou a cabeça e mirou Kiku. Comportava-se como se todos aqueles machucados nele próprio fossem parte de uma fantasia de Halloween.

_ Será que Japão vai ficar bem agora?

_ Espero que sim. _ Respondeu Vietnã.

Um silêncio momentâneo se fez presente. Kugelmugel tirou sua atenção das fotos e olhou para mim, aparentemente indiferente a tudo.

_ Herr Österreich.

_ Sim?

Então ele me mostrou uma foto da donzela de kimono branco.

_ Essa foto está muito bem tirada. Posso ficar com ela?

_ ... É toda sua, se Kiku não se importar.

Saímos da mansão, levando Kiku e os demais para a casa do anfitrião. Vietnã ficou por la para cuidar de si e dos irmãos. Já eu levei América, Itália e Kugelmugel para a minha, tratando de cuidar dos nosso ferimentos.

Acho que depois desses acontecimentos, vou para Veneza passar o carnaval la. *Suspira exausto* 


8 comentários:

  1. Hm, parece ter sido problemático. eê'' Ao menos as coisas voltaram ao normal...

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  2. Peço desculpas pelo o trabalho m(_ _)m Eu não queria envolvê-los nisso, sinto muito. Mas... Muito obrigado por terem ajudado ne (só não sabia que ia tanta gente o.o).

    Ah, e... É, foi mesmo uma noite longa e cheia de coisas ^^' Espero que tudo fique calmo como sempre de agora em diante [risca]mesmo nunca se sabendo...[/risca]

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  3. Whaaaah, que medo! ç_ç Ainda bem que vocês estão bem, e que essa história parece ter tido um fim, ne!

    E que ritual interessante o.o ~

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  4. Holanda: Acho que problemático é um eufemismo para tudo o que passamos... Felizmente saímos vivos.

    Japão: Eu também não esperava tanta gente, mas que bom que foi assim, não? Também espero que não tenhamos mais problemas como esse.

    Bulgária: Sim, que bom que todos se salvaram. É, interessante. Desumano, mas de alguma forma interessante.

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  5. Que coisa estranha! Ultimamente estamos tendo muitos problemas com casas mal assombradas.
    Esse negócio de tirar fotos de fantasmas eu vi num jogo, se eu não me engano, o América que me mostrou, mas quem jogou na verdade fui eu. O America só sabia gritar de medo...XD
    Depois dessa, me admira vc ainda ter pique para ir no carnaval em Veneza. Boa sorte e bom descanso!

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    1. Inglaterra: Depois de toda aquela cena, Arthur, preciso me distrair um pouco. Normalmente a alegria do carnaval de Veneza me inspira em minhas composições.

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  6. Este dia foi terrível, contudo não assustou tanto ao herói. Lembro-me daquelas criaturas gélidas me perseguindo e desejando me matar, mas enfim, conseguimos escapar o/

    Mas este dia foi realmente tenso '-'

    E desconfio que o Kiku era o homem pelo qual a moça se apaixonou e ele desejava libertá-la =D

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    1. Ainda bem mesmo. Na minha opinião, a situação estava tão caótica que não deu tempo de sentir medo... Não sei como explicar.

      A donzela se apaixonou por Kiku? É uma teoria interessante...

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